Estou gorda, engordei sim. Sou fraca, nojenta. Mas não vou abandonar a Anna, ela nunca me abandonaria, nem vocês. Estou aqui, e vou continuar. Estou me reerguendo e senti falta do blog de vocês...
A partir daqui, não precisa ler.
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“A dor passa”
"Nunca perca a fé"
Perdi a conta de quantas vezes ouvi isso das pessoas. Mas eu sei e tenho certeza que vão concordar comigo, quando a gente tá no fundo do poço, quando não parece mais haver nenhuma saída, não dá pra lembrar de nada disso. Dá medo. Um medo muito grande. E sabe, não sei se é o nosso psicológico querendo piorar as coisas, mas as únicas imagens presentes na mente são daquelas lembranças em que tudo deu errado. São os segredos, são as vontades que a gente nunca, nem em um milhão de anos, iria contar a ninguém. São nessas horas da vida em que parece que a dor nunca vai passar. Horas difíceis, horas longas, horas solitárias. E... quer dizer, por quê? Por que a gente tem que passar por tudo isso? Por que, pelo menos uma vez, as coisas não podem simplesmente dar certo? Por quê?
Eu não mereço? A gente sempre se pergunta essas coisas, mas não tem resposta. Só que é difícil de aceitar, é difícil de aceitar que pra alguns é tão fácil e pra outros é assim, um esforço tão grande, gigantesco todos os dias. Dá vontade de desistir. Mais de três vezes ao dia se quer saber.
Faz parte da vida, como dizia um psicólogo que encontrei por aí. A vida é um amontoado de erros e alguns poucos acertos, mas não dá pra desabar a cada erro, o mundo não vai esperar você levantar. Mas agora me diz, quem é que vai lembrar disso quando estiver no fundo do poço, quem é que vai conseguir continuar usando máscaras, fingindo não lembrar? Não dá. Não existem forças o suficiente pra fingir ser algo além do que realmente é. Você sabe do que eu to falando, todo mundo já passou por isso, e se não passou, vai passar. E dói, dói muito. Dói tanto que você acaba fazendo o possível e o impossível pra fazer com que pare, as lembranças, as vozes, elas precisam ir embora.
No começo é só uma brincadeirinha, uma distração, uma saída de emergência, uma válvula de escape; é tão normal, que acaba virando zoação, e de repente, sorrir fica mais fácil, fingir fica mais fácil, dormir fica mais fácil. Só que depois se torna um vício. E como todo vício, faz mal. Mas não dá pra pensar nisso quando tem tanta coisa acontecendo, não tem espaço pra mais nada, nem mesmo pra dor emocional. Então você continua. Continua, vai mais fundo. Cria mais segredos, se esconde no seu próprio mundo com suas próprias cicatrizes. Chega um ponto em que a voz na sua cabeça diz 'dane-se, algumas vezes, morrer não é a pior coisa que se pode acontecer'
E foi a esse ponto em que cheguei essa semana.
Vou explicar, mesmo sabendo que nem vou conseguir direito. Me dói muito dizer isso, mas já contei aos meus pais, então acho que nada poderia ser pior que isso.
Eu fui sexualmente abusada quando criança. Diversas vezes. Pelo meu primo.
Na época eu devia ter uns 6 anos e ele 19.
Não tem muito o que falar, eu passei 10 anos da minha vida tentando esconder isso do mundo, mas foi um programa qualquer, uma matéria idiota e um comentário da minha mãe
como uma criança pode ser tão burra a ponto de não contar pros pais? que me fez desabar, pois bem, deixei de ser burra. E estou chorando enquanto escrevo isso, com um nojo muito grande de mim.
Sempre fui uma hipócrita, usando meu anel da pureza, julgando as garotinhas medíocres da minha escola, quando na verdade era eu a maior fraude. Uma farsa. Me achava tão diferente e me mostrei tão igual, com medo, frágil. Se eu tivesse contado na primeira vez tudo seria tão diferente... Quem eu seria agora? Seria uma pessoa melhor? Seria menos traumatizada e problemática?
É estranho sentir lágrimas que não sejam de medo ou de angústia, mas sim de dor física, e ainda assim, tão libertador. Faltou coragem pra um suicídio. Ainda falta coragem. Falta mesmo. Mas eu to aqui.
Só queria ter fé. Queria acreditar que existe um propósito maior pra tudo isso.
Mas não acredito.
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Vou mudar.
E se você leu isso, me desculpe ):